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"Empresas podem fechar assim": Conselho Fiscal do São Paulo questiona negociações e cobra uso de Cotia no profissional

 

Casares e a diretoria de futebol: cobrados internamente (Instagram)

RAFAEL EMILIANO
@rafaelemilianoo

Que o déficit do São Paulo atingiu quase R$ 191 milhões até setembro nesse ano, é uma informação que já se tornou pública. O prejuízo, que segundo o 'Blog do São Paulo' pode ser de nível recorde na história do clube do Morumbi, responsável provavelmente para fazer a dívida total atingir R$ 1 bilhão, foi esmiuçado em um relatório do Conselho Fiscal produzido em duas reuniões do órgão interno e que o ANOTAÇÕES TRICOLORES (conheça o trabalho clicando aqui) revelou detalhes importantes do parecer apontado para os motivos da grande sangria nas contas são-paulinas no ano.

Na primeira das reuniões, no dia 31 de outubro, o Conselho Fiscal realizou uma reunião ordinária com o Diretor Financeiro para análise dos balancetes e demonstrações financeiras referentes aos meses agosto e setembro do presente ano. 

Durante o encontro foram apresentados em detalhes os balancetes e as demais demonstrações financeiras referentes aos meses de agosto e setembro de 2024. 

O Diretor Financeiro apresentou as informações de maneira clara e objetiva, proporcionando uma visão abrangente da situação financeira da organização. Os membros do Conselho Fiscal puderam tirar dúvidas e realizar questionamentos pertinentes, que foram esclarecidos. A reunião permitiu a análise dos resultados, contribuindo para uma compreensão mais precisa sobre as receitas e despesas. 

Durante o encontro, foram apresentados e analisados os dados financeiros da instituição, incluindo receitas, despesas e resultados operacionais. A reunião foi considerada produtiva, com a identificação de várias oportunidades de melhoria e reforço das práticas de transparência e controle financeiro.

A segunda e última reunião foi realizada no dia 14 de novembro e gerou o documento que o ANOTAÇÕES TRICOLORES teve acesso. 

O texto é assinado pelos cinco membros do órgão: o presidente Pedro Sansão Leite, o vice-presidente Ricardo Moreira, o primeiro secretário Eduardo Krasovic e os membros efetivos André Riskalla de Miranda e Paulo Affonseca de Barros Faria Neto.

Embora sejam confeccionados a cada dois meses, os relatórios do CF não têm sido publicados no site do clube, onde estão disponíveis para download apenas o referente a junho de 2017, ainda na gestão de Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, e quatro outros referentes a maio, julho, setembro e novembro de 2021, já na gestão de Júlio Casares.

Esse último continha recomendações para baixar a folha salarial do elenco, dos custos operacionais e de outras despesas do futebol profissional, além de registrar que haviam sido feitas até setembro daquele ano despesas num valor 70% maior que as receitas.

Nele também era apontada como “cada vez mais urgente” a venda de jogadores na janela seguinte, para equacionar o déficit, algo que não foi feito. Assim, o Tricolor registrou um déficit de R$ 106 milhões naquele exercício, que mais tarde seria corrigido para R$ 146 milhões, com adequações referentes a receitas e despesas no ano anterior.

As orientações de agora não fogem muitas das recomendações dadas três anos atrás. Ricardo Moreira, por exemplo, destacou a necessidade do clube parar de investir em contratações para cumprimento das diretrizes.

"Analisando os documentos apresentados, notamos que o endividamento líquido do São Paulo Futebol Clube aumenta constantemente. Novamente, destaco a importância e necessidade do cumprimento da previsão orçamentária, evitando-se despesas maiores do que as receitas geradas. O nosso maior ativo são os jogadores, por este motivo, entendo que eventuais verbas de venda de jogadores deveriam ser usadas para amortizar a dívida do Clube e não para cumprir orçamento. Com protestos de elevada estima e consideração", escreveu.

Mas ninguém foi mais incisivo em seu parecer que Paulo Faria Neto. O integrante do CF foi direto na orientação do São Paulo "vender atletas para a instituição conseguir equalizar seus gastos com as suas receitas" e fez uma avaliação sincera e pesada da gestão Casares.

"Vê-se que entre janeiro e setembro o SPFC acumulou um prejuízo financeiro de R$ 190.949.000 (cento e noventa milhões); o que representa um déficit médio mensal nas finanças do Clube de R$ 21.216.555 (vinte e um milhões). A consequência disso está na página 4: o endividamento de R$ 666.672.000 (seiscentos e sessenta e seis milhões) pulou pra R$ 886.270.000 (oitocentos e oitenta e seis milhões). Esse nível de endividamento é preocupante, pois é quase o dobro do orçamento anual da instituição — empresas podem fechar ou serem vendidas a preço baixo para investidores oportunistas em cenários similares", relata.

"Esse vultoso prejuízo ocorre pelo Clube não conseguir respeitar o seu orçamento anual em diversos itens, os mais impactantes estão na unidade de negócio futebol profissional", completa o conselheiro, que alerta sobre alguns detalhes:

1 - Receita com a negociação de atletas: Previa-se até setembro receber R$ 108 milhões, mas o obtido foi de R$ 73 milhões, o que representa um déficit de R$ 35 milhões. 

2 - Despesas com Pessoal/Imagem: Foi orçado até setembro um custo de R$ 225 milhões, mas o SPFC gastou e/ou investiu R$ 255 milhões, o que gerou outro déficit, de R$ 30 milhões.

3 - Na página 13 desse mesmo Relatório vê- -se que o SPFC adquiriu por empréstimo jogadores neste bimestre, como já o havia feito no bimestre anterior. Só que o valor investido extrapola ao que fora orçado.

Neto ainda questiona o departamento de futebol profissional por optar contratar jogadores emprestados ao invés de usar jovens revelados nas categorias de base.

"Aí cabem duas perguntas: porque atletas da divisão de base não puderam suprir a necessidade da equipe profissional? Ou porque não se valer de atletas dentre os 109 jogadores profissionais contratados e à disposição (página 3 do Relatório) antes de contratar outros? Para a primeira pergunta, talvez parte da resposta esteja na página 14 do Relatório de Atividades Administrativas do bimestre anterior (julho e agosto) quando tanto o sub 20 como o sub 17 foram eliminados na lª fase dos respectivos campeonatos brasileiros disputados em 2024. Para dirimir dúvidas e contribuir com o trabalho dos membros do Conselho Fiscal, entendo ser importante reunir e dialogar com os dirigentes do CT da Barra Funda e do CFA de Cotia", diz.

Por fim, há outro item de despesa operacional que extrapolou o orçamento anual, segundo o conselheiro: a despesa com jogos, tributos, arena e intermediações: orçado R$ 75 milhões, realizado R$ 95 milhões (déficit de R$ 20 milhões), e na unidade do complexo social é a despesa com jogos e eventos: orçado R$ 4 milhões, realizado R$ 9 milhões (déficit de R$ 5 milhões).


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